Para financiar um imóvel, verifique o sistema escolhido e use bem o FGTS

Para financiar um imóvel, verifique o sistema escolhido e use bem o FGTS

Por: Camila F. de Mendonça

Infomoney

Você foi ao feirão e encontrou o imóvel dos seus sonhos. Antes de fechar o contrato, porém, é preciso adotar uma série de cuidados, como verificar suas necessidades, averiguar a boa procedência da incorporadora e visitar a unidade escolhida. Se tudo estiver em ordem, então, você fecha o negócio, certo? Ainda não. Antes disso, é preciso analisar com calma o contrato de financiamento, bem como o seu planejamento financeiro. Afinal, comprar um imóvel financiado significa comprometer a renda por um bom tempo.

No feirão da Caixa Econômica Federal, que começou nesta sexta-feira (13) em cinco cidades, os consumidores devem evitar o financiamento por impulso. “Eles devem evitar ficar eufóricos com o evento e achar que os imóveis ofertados estão baratos. Não é porque é um feirão que os imóveis estão mais em conta. Nem sempre isso é verdade”, alerta o professor de pós-graduação da Trevisan Escola de Negócios, Ricardo Cintra.

Antes de pensarem em assinar o contrato de financiamento, é preciso conferir os recursos financeiros disponíveis. “A primeira recomendação é aumentar tanto quanto possível o valor da entrada, para que o valor do financiamento seja o menor possível”, afirma Cintra. E para isso, é preciso reavaliar o padrão de vida. Se a família tem dois veículos, por exemplo, vale vender ao menos um para completar a entrada. “Para comprar a casa própria, é preciso abrir mão de alguma coisa”, reforça o especialista.

De olho no seu perfil
Comprar a casa própria é um passo que muitos sonham em dar. E na hora de escolher o tipo de financiamento, ficar de olho no seu perfil de renda ajuda a optar corretamente. Para o presidente da Amspa (Associação de Mutuários de São Paulo e Adjacências), Marco Aurélio Luz, o primeiro passo é ficar de olho no orçamento. “A primeira coisa é fazer um planejamento para ver os recursos disponíveis”, diz.

Um jovem solteiro, por exemplo, em início de carreira, pode não ter um bom montante, mas tem tempo e dispõe de recursos livres para segurar um financiamento. “Claro que depende de caso a caso, mas esse jovem não tem responsabilidades financeiras maiores, a não ser com ele mesmo”, explica Aurélio Luz. “Agora quem tem família precisa tomar mais cuidado, porque tem outras responsabilidades”, completa.

O especialista explica que, independentemente do perfil, o futuro mutuário deve cuidar para que comprometa até 30% da renda com o financiamento imobiliário. E quem for comprar imóvel na planta deve pagar o mínimo possível no começo. “Caso ocorra algo, as perdas serão menores”, afirma. Apesar desses detalhes, Aurélio Luz reforça que os mutuários devem fazer alguns esforços financeiros para quitar a casa própria.

E esse esforço tem de ser feito independentemente do perfil do futuro mutuário. “A questão do perfil não muda a análise. O que é relevante é a disponibilidade de recursos para dar de entrada e para manter o financiamento nos primeiros dez anos”, afirma Cintra. Para o professor, mais importante que o perfil é ficar de olho no sistema de financiamento disponível.

Os sistemas de financiamento
Em financiamentos imobiliários, de maneira geral, os consumidores podem optar por três sistemas de financiamento: o Price, o SAC (Sistema de Amortização Constante) e o Sacre (Sistema de Amortização Crescente). Para Cintra, os consumidores devem evitar ao máximo o sistema Price. “Esse sistema é para quem tem uma renda menor. O problema é que por ele você corre o risco de chegar no final do financiamento e ainda não ter pagado tudo”, explica o professor.

Em linhas gerais, pela tabela Price, as parcelas do financiamento são menores no começo, mas sobem ao longo do tempo. Pelo SAC, as parcelas são decrescentes, porque os juros decrescem, mas a amortização permanece constante. Pelo Sacre, ocorre o mesmo, mas esse sistema permite uma amortização maior, pois reduzem-se os juros sobre o saldo devedor. Tanto pelo SAC como pelo Sacre, o financiamento inicia com valores de prestação mais altos que o financiamento feito pela tabela Price, por isso, muitos consumidores acabam não optando por esses sistemas.

“Acontece que a partir do 114º mês, as prestações feitas pelos três financiamentos se igualam e depois as prestações do SAC e do Sacre começam a cair. Por isso, o Price não é interessante para muitos consumidores”, afirma Cintra.

Use (bem) o seu FGTS
Na hora de comprar a casa própria, o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) entra na lista dos recursos disponíveis. Contudo, Aurélio Luz alerta: “o FGTS é para quitar o imóvel”. Ele explica que essa é a melhor maneira de utilizar o fundo. “Utilizá-lo para pagar a prestação não é interessante, porque, dependendo do plano que você escolheu, ainda vai restar um saldo devedor no final do financiamento”, explica.

Outra vantagem para o uso do fundo, segundo o presidente da Amspa, está em casos como desemprego ou até de pagamento de prestações em atraso. “O fundo garante o pagamento do financiamento nessas situações”, diz. “O recomendável é utilizar o FGTS somente em último caso, pois é melhor mantê-lo como reserva”, completa.

Outra dica do especialista é com relação ao saque do fundo, que não será liberado se o mutuário estiver com mais de três prestações em atraso. “As cotas liberadas quitam apenas 80% do valor devedor”, afirma. “O Fundo de Garantia quitará no máximo 12 mensalidades consecutivas”. Ele ainda aconselha os futuros mutuários a efetuar o saque, quando o fizerem, sempre depois do dia 10, quando ocorre a correção dos valores da conta.